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Capítulo 2

- Eu estou falando sério. - Eu permaneci sentada, enfrentando aqueles olhos opressores com calma. - Já se passaram cinco anos, de qualquer forma você nunca vai me amar, então vamos nos dar uma saída mútua.

Daqui a um mês, haverá uma grande conferência comercial na Cidade A, onde Carlos estará presente e conhecerá Celeste, que estará trabalhando como recepcionista de meio período. Será amor à primeira vista e ele estará determinado a conquistar ela, mesmo que fosse necessário tomar medidas drásticas.

Mas eu não vou mais desempenhar o papel de peão na intensa história deles.

Eu já fiz o que eu queria, o que eu podia e o que deveria fazer na vida anterior. Eu obtive os resultados finais, e nesta vida eu não vou me tornar uma piada novamente, nem vou arrastar a família Correia para o abismo.

Decidi me afastar antes de Carlos e Celeste Fontes se encontrarem, dando a eles o espaço para o primeiro passo para seu árduo caminho romântico.

Talvez porque meu olhar estivesse realmente sério, o rosto de Carlos imediatamente se tornou sombrio. Ele nunca teve bom temperamento, e se alguém o irritasse, não mostraria misericórdia.

- Ora, então agora eu, Carlos Oliveira, virei o brinquedo de outra pessoa? - Ele riu, mas havia frieza em seus olhos. - Cinco anos atrás, você era a pessoa que insistia em se casar comigo, e agora é você que quer o divórcio. Samantha, você está zoando com a minha cara?

Cinco anos atrás, as famílias Oliveira e Correia tinham um relacionamento amigável, então eles nos juntaram.

Dado o caráter de Carlos, ele nunca seria tão obediente, mas a reviravolta aconteceu quando o avô da família Oliveira ficou gravemente doente e o forçou a se casar comigo.

Isso foi extremamente humilhante para Carlos, mas ele não tinha uma paixão profunda por outra pessoa naquela época. Além disso, ele estava gradualmente assumindo os negócios da família e precisava de uma esposa competente, então ele me suportou por cinco anos.

- Você ainda quer continuar esse casamento de fachada? - Perguntei, abrindo um sorriso amargo e triste.

- Um casamento de fachada? - Retrucou Carlos, que parecia estar ponderando essas quatro palavras, então ele arqueou uma sobrancelha e perguntou com sarcasmo. - Ah, então você está se sentindo solitária e vazia?

- Não, é só que...

Eu estava ponderando minhas palavras, mas Carlos já estava de pé ao meu lado. Ele se inclinou para frente, com as mãos apoiadas nos lados do sofá, formando um círculo com seus braços, me prendendo dentro dele.

- Se está se sentindo solitária, por que não me procurou? E ainda quer se divorciar, o seu desejo é tão forte assim? - Me perguntou Carlos, com uma voz sedutora.

Carlos gostava de fumar, sempre teve um leve aroma misturado com o cheiro do tabaco. Claro, ele nunca me abraçou, eu apenas cheirava secretamente sua jaqueta antes.

Agora, aquele aroma complexo e cativante me envolvia, e embora eu devesse estar animada e excitada, meu rosto estava vermelho não por excitação, mas por opressão.

Eu era uma pessoa prestes a partir e qualquer coisa que me fizesse hesitar parecia um mau agouro.

- Não é por isso! - Eu tentei explicar. Depois de tantas noites solitárias, já me acostumei com a solidão.

- É mesmo? - Carlos se levantou e endireitou o corpo. Ele nunca teve interesse em mim, aquela provocação ambígua era apenas para me envergonhar, ele não perderia o controle.

Eu, uma virgem casada de 27 anos, exalava ressentimento em vez de um aroma encantador.

- Samantha, eu sei que hoje é o nosso quinto aniversário de casamento, mas não me interesso por esse tipo de coisa. Se você quer usar isso para fazer birra e exigir um divórcio, sugiro que pare com isso. - Disse Carlos, em pé na minha frente, olhando para mim com superioridade, sua voz havia voltado a ser fria.

- Anos após anos sem comemorar aniversários de casamento, eu não tenho necessidades de começar a fazer birra agora. - Eu também me levantei, olhando para Carlos de cabeça erguida. - Pense bem sobre isso. A minha utilidade já deve ter acabado. Você precisa de liberdade mais do que eu, não é mesmo?

Depois de dizer isso, subi as escadas para o quarto no segundo andar, sem olhar para trás, não queria dizer mais nada.

Ouvi o som rude da porta sendo fechada lá embaixo, seguido pelo barulho do motor do carro do Carlos do lado de fora da janela. Eu sabia que ele tinha ido embora, mas desta vez, eu estava bem tranquila.

Nesse momento, meu celular tocou. Era minha amiga Mônica Pitanga.

- Samy, bora sair pra farra, vamos para o Clube Fallen! - A voz alta da Mônica instantaneamente dispersou minha melancolia. Ela tinha a mesma idade que eu, mas ainda era solteira.

Depois de me casar, eu raramente saía para me divertir. A Mônica me convidou dezenas de vezes e eu recusei quase todas, mas ela continuava persistente.

- Tudo bem! - Aceitei de imediato, tão rápido que um longo silêncio se instalou do outro lado da linha.

- Hoje é o seu aniversário de casamento com o seu Carlos, você tem certeza de que quer sair? - Perguntou Mônica, sua voz estava cheia de dúvida e surpresa.

Nos últimos quatro anos, eu sempre usei o aniversário de casamento como desculpa para recusar a Mônica.

- Sim, aniversário não é um dia de luto, estou indo agora mesmo. - Respondi com confiança e desliguei o telefone.

Abri meu guarda-roupa e vi uma variedade de branco, preto e cinza. Até a cor azul era pouco comum. Por trás de cada marca de luxo, havia designs incríveis, mas eu, a azarada, gastei uma fortuna para comprar os modelos mais entediantes.

Levei dez minutos para escolher um vestido preto não tão monótono, com alça de pescoço, feito de seda, com decote em V profundo até quase o umbigo e uma cintura elástica que realçava minha cintura excessivamente fina. Os braços brancos estavam completamente expostos, assim como a maior parte das minhas costas.

Eu me lembrava deste vestido, o comprei especialmente para seduzir o Carlos, mas, como resultado, ele nem sequer voltou para casa durante um mês.

A única coisa que me incomodava agora era que meu peito era muito plano, não combinava muito bem com a sensualidade deste vestido.

Vou me contentar em usar ele assim e comer mais no futuro, pensei consolando a mim mesma.

Depois de trocar de roupa e terminar de me maquiar, fui para a garagem e peguei um carro esportivo vermelho, indo direto para o Clube Fallen.

O Clube Fallen era uma boate da Cidade A, com um nome que tinha uma sensação selvagem e artística.

Estacionei o carro e entrei no Clube Fallen, onde encontrei Mônica e as outras no bar onde tínhamos combinado.

Durante a universidade, eu, Mônica, Dolores Belmiro e Larissa Serra éramos conhecidas como as quatro musas mais talentosas do curso de música. Todo mundo achava que, depois de nos formarmos, iríamos alcançar grandes coisas. No entanto, eu me casei cedo, Mônica se tornou a rainha da vida noturna, Dolores agora era vice-gerente em sua própria empresa e só a Larissa continuou fiel à sua vocação, participando de competições musicais e jurando se tornar uma estrela.

- Ora, ora, que visita rara! - Exclamou Mônica, adotando uma postura de chefe de empresa. Imediatamente pulou da cadeira alta e apertou minha mão emocionada.

As outras duas também concordaram com a cabeça, porque depois que me casei, praticamente desapareci.

Pelo Carlos, eu abri mão das minhas relações sociais.

Depois de algumas bebidas, Dolores suspirou e disse:

- Samy, se você não saísse desta vez, eu começaria a duvidar se participei do seu casamento há cinco anos ou do seu funeral.

Morta e enterrada.

- Estranho, hoje você não fez um jantar à luz de velas em casa? - Perguntou Mônica curiosa, ela abriu meus olhos com os dedos forçadamente e continuou. - Vamos, deixe eu ver direito, será que aquele canalha do Carlos está te ignorando? Você chorou?

- Você poderia não arrancar meus cílios postiços, por favor? - Respondi, afastando a mão da Mônica.

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